Pra quem não sabe, o maior sonho da minha vida, sempre foi e sempre será, viajar muito e conhecer distintos lugares pelo mundo, aprender línguas, me deparar com esse choque de culturas, costumes, enfim, isso sempre me fascinou.
No início de dezembro, essa vontade finalmente iria de concretizar. No começo eu fiquei super contente e feliz, afinal de contas seria a primeira vez que eu estava saindo do Brasil, sozinha e para um país que de certa maneira sempre me chamou atenção pelo fato de ser assim como o Brasil, um país de "boleiros" e a maneira como se joga o futebol na Argentina me fascina.
Fui viajar no dia 09/12/07, e meu vôo saiu as 10:15 da manhã. Na noite do dia 08 para 09, eu não dormi, fiquei arrumando a minha mala até umas 5:00 hrs da manhã, e pretendia tomar o táxi para o aeroporto umas 7:00 hrs. Enfim, terminei de arrumar as minhas malas, sentei no sofá, e coloquei meu celular para despertar dentro de meia hora. Nesse meio tempo, eu cochilei um pouquinho, e esse pouquinho pareceu mais um eternidade, só sei que quando tocou o despertador do celular, eu acordei com um sensação terrível. Senti uma insegurança incomum, um medo e uma duvida que me colocaram pra baixo. Imediatamente comecei a chorar desesperadamente, e só sabia pensar:"Caralho! será que isso é mesmo tão importante pra mim"?..."Será que vale a pena ficar longe de todas as pessoas que eu amo, somente para realizar um sonho de infância"?
Mesmo com todas essas dúvidas, e com o coração partido, eu levantei, acordei meu pai para dar tchau e segui para a casa do Marcus, que é meu vizinho, pois ele iria me levar ao aeroporto.
Chegando no Má, com os olhos cheios de lágrimas, eu não consegui me conter e desabei. Chorei muito, parecia que as próximas 2 semanas seriam eternas, e eu já estava sofrendo antecipadamente as saudades que sentiria.
Chorando o caminho todo, seguimos para o aeroporto, demora na fila para o Check in da TAM, e aproveitando os últimos momentos com meu bebê. Só sei que na hora de entrar na sala de embarque, e tive que me separar do Marcus, foi como se estivessem arracando uma parte de mim, foi horrível. Uma sensação que jamais quero sentir novamente.
Entrei chorando feito uma louca, morrendo de vergonha(odeio chorar em público). Segui chorando até dentro do avião, que assim que levantou vôo, olhei pra baixo e avistei o aeroporto bem pequenininho lá de cima, só sabia ficar imaginando em que parte estaria o meu amor.
No caminho, fiz amizade com o Diego, Argentino que viajou na poltrona do meu lado. Na verdade, eu nem estava afim de falar porra nenhuma, mas foi bom que ao invés de chorar, fiquei preocupada em entender o que ele me dizia e me perguntava o tempo todo.
2 horas e pouco depois, lá estava eu, olhando Buenos Aires de cima. Caralho!, cheguei! que sensação de alívio o impacto das rodas do avião tocando a pista. Terra firme, graças aos deuses!!..rsrrsrsrrs
Chegando no Aeroporto Internacional em Ezeiza, fiquei pouco mais de meia hora, de pé na fila da imigração. Depois dei uma leve passada no Free Shop e segui até o Banco de La Nación Argentina para "cambiar" la plata.
Parei num box para fretar um táxi até meu destino final: Avenida Del Libertador, 828 - Recoleta. Entrei no táxi, as 3 perguntas mais frequentes na minha estada na Argentina começou:
De que parte do Brasil você é?
Você tem namorado?
Até quando vai ficar aqui?
Que dia lindo, um Sol muito gostoso e um ventinho fresco na cara, me levaram até Buenos Aires. Cheguei observando cada detalhe da cidade. O taxista muito gente boa, ficou dando umas voltinhas ao redor do lugar onde eu iria ficar, para que eu já fosse conhecendo(Tudo bem ele dar as voltinhas, o preço da viagem foi fixo e já estava pago desde Ezeiza).
No caminho ele vinha me dando conselhos: "Cuidado com os homens argentinos, de noite eles viram vampiros". Eu cascando o bico e achando um exagero esse alerta, e cheguei na casa da Marta.
O taxista desceu junto comigo, chamou a mulher pelo interfone e só foi embora quando a minha subida no predio foi autorizada.
Gracias, gracias(única coisa que eu sabia dizer até então). Me despedi do taxista e subi. A Marta estava na porta do elevador me esperando. Ela é muito mais jovem do que eu imaginava. Loira, olhos azuis, alta, bronzeada e com silicone nos peitos(reparo mesmo!!..hauauahuahua). Mas o que mais me chamou atenção na Marta não foi o peito de silicone, e sim a simpatia, educação e delicadeza com que me recebeu. Ela foi ótima.
Nos sentamos no sofá, e ficamos conversando uma hora mais ou menos. Eu falando português bem devagar pra ela entender. O telefone toca, a Marta fala meia dúzia de palavras e me passa, era pra mim. Quando atendo era meu amor, tadinho chorando feito criança, e preocupado comigo. Afinal de contas, já eram umas 16hrs e eu nem tinha dado sinal de vida.
Tô bem minha riqueza, cheguei bem sim. Já já vou sair para fazer o reconhecimento de área e tento te ligar.
Getilmente, a Marta me levou até o meu quarto e me mostrou tudo. Na hora me apaixonei pelo cantinho, pequeno e muito confortável. No quarto havia uma cama, guarda-roupas, escrivaninha, prateleiras, mesa, cadeira e o bendito ar-condicionado que me salvou nesses 15 dias quentíssimos. Eu também tinha um banheiro e uma porta privativa.
Arrumei as minhas roupas, meus livros na prateleira, me organizei, troquei de roupa e fui fazer o reconhecimento de área pelas ruas. Eu estava ansiosa para ligar pro Marcus, afinal de contas eu já estava morrendo de saudades.
Andei, andei e andei muito, eis que encontro um mercado aberto. Entrei e comprei uma caixa de alfajores "Terrabusi". Hummm Muito bom.
Andei mais um pouco e encontrei um locutório aberto, ufa! finalmente iria falar com o meu "paxudo"...rsrsrsrrss. Nos falamos rápido, só deu tempo de contar o que havia ocorrido até então, e com o coração na mão tive que desligar.
Continuei passeando sem rumo, só dando voltas mesmo e acabei chegando na Praza Francia, onde é bem movimentada aos domingos, tem feirinha de artesanato, muitos artistas de rua, muitos jovens estirados no gramado da praça tomando Sol de biquini.
Mesmo vendo tantas coisas legais, eu não conseguia me animar. Afinal de contas, eu estava vendo tantas coisas lindas, gente diferente, coisas novas, mas não tinha ninguém para dividir aquela sensação. Então, eu de fato estava bem triste e com saudades do Má.
Comendo os meus alfajores, eu segui "sacando" algumas fotos pelo caminho. Andei, andei e andei muito, na verdade eu nem sabia mais voltar pra casa por conta própria, teria que pedir informação ou usar o meu mapinha(mapinha que não usei em momento algum). Com a ansiedade a mil, a fome bateu e eu nem tinha ideia o que iria comer e nem muito menos onde eu iria comer. Nas horas de desespero e de fome, o que sempre salva em qualquer canto do mundo, chama-se "Mc Donald's"...rsrsrrsrsrs. Então comecei a caçar um Mc. Pra todos que eu trombava eu perguntava: "Onde encontro um Mc Donald's aqui"? Cada um me falava uma coisa, e eu segui caminhando, até me deparar com um shopping. Puts! impossível aqui não ter uma porra de um Mc para uma brasileira ansiosa e faminta.
Si, pos supuesto que havia um Mc no shopping, a merda foi conseguir pedir a porra do lanche só pão-carne-queijo, batata e coca zero sem gelo. Depois de me matar, o rapazinho conseguiu entenser que a palhaça aqui não come a porra das "ensaladas" e muito menos come "cebollas". Entonces, eu comi aquele lanchinho esperto e segui em direção de onde eu achava que chegaria em casa. E não é que esse Shopping "Pátio Bullrich" era meu vizinho, estava exatamente ao lado de casa e eu não sabia. Ufa! cheguei.
Tomei um banho, e capotei na cama. Devia ser umas 22hrs. Só acordei quando a Marta bateu na porta dizendo: "Ligia (leia "Lirria") seu pai no telefone". Levantei pra atender o velhote, que queria saber se estava tudo bem, e tal tal tal.
Voltei pra cama, preocupada com o dia seguinte, pois minha aula na escola começaria as 9:30 da manhã, mas eu teria que chegar mais cedo pra fazer uma prova de nível.
Acordei com uma sensação muito estranha, tipo assim: " Que porra eu to fazendo aqui"?. Tomei banho, e sai pra aula. Não podia acreditar que estava chovendo, eu nem sabia como chegar na escola, pensei em tomar um táxi(são super baratos em Buenos Aires) ou pegar o tal Colectivo, mas eu não sabia onde passava. Então foi ai que começou o meu aprendizado, na raça, perguntando á cada 100 metros como eu chegaria na Calle Reconquista.
Andando uns 15 minutos eu cheguei, foi mais rápido do que eu esperava. Subi o prédio da EBA Trust, com o cú na mão de medo e insegurança. O Eduardo diretor da escola, me recebeu na porta e me deu as boas vindas.
Ligia, vamos te aplicar a prova de conhecimento, para definir que turma você vai ficar. Quanto tempo você estudou espanhol? Hã? que porra ele tava falando?
- Eu nunca estudei espanhol antes, estou aqui pra isso mesmo!
-Humm, desculpe! equivocadamente pensamos que ja havia estudado espanhol antes. Então terá que ficar sozinha numa sala com o professor, terá aulas particulares, chica!
Tudo bem, a merda é que não vou conhecer ninguém, mas por um lado terei aulas particulares. Na duas primeiras aulas, eu fiquei numa turma que havia iniciado uma semana antes de mim. Foi nessa turma que conheci pessoalmente o Bruno, brasileiro, carioca e residente da Avenida Paulista, também haviam 2 australianas que não me lembro os nomes, o Brandon o um senhor inglês e o Ronan um cara Irlandes.
Na segunda aula, eu fui pra minha sala com o querido professor Marcelo. Um homem inteligentissímo que conhece muito mais o Brasil do que muitos brasileiros. Apaixonados pela música brasileira, eu e o Marcelo ficamos falando sem parar de Caetano, Chico, Gal, Bethânia, Toquinho, Roberto Carlos(que não gosto muito) e fiquei ouvindo com atenção as histórias de todas as viagens que o Marcelo já fez ao Brasil.
Falamos muito de música e do governo Lula(que os argentinos acompanham muito mais que os brasileiros).
Saindo da escola, o Sol já estava matando. Passei num locutório, falei com o Mázinho e fui comer algo. Não tinha muita fome, entonces pedi um sanduiche de jamón con queso(presunto e queijo). Comi enquanto assistia pela TV a posse da Nova presidenta Cristina Kirchner.
Tive muita sorte de estar presente num dia histórico da Argentina. Depois de comer, segui caminhando até a Calle Florida, paraíso do consumismo exacerbado. Tudo muito barato. Fiquei passeando por lá e acabei caindo na Plaza de Mayo, onde estava rolando a festa da posse da Cristina.
Caralho! vou ficar aqui, quero ver o show da Mercedes Sosa, pensei eu. Creio eu, que já tinha rolado o show, porque não vi nem sinal de La Negra. Então resolvi, bater mais um pouquinho de perna e voltar pra casa.
Fiquei assistindo TV, e reparei como tem novelas brasileiras passando nesse momento, como por exemplo: "El Clon" (O Clone), "Lazos de Familia"( Laços de Família), "Alma Gemela" (Alma Gêmea) "Serpientes & Lagartos" (Cobras e Lagartos). Enfim, eu nem sou noveleira, nem fiquei acompanhando os últimos capítulos de "El Clon". O melhor de tudo foi ouvir a voz dublada do Murilo Benício, que na real tem uma voz suave e tal, e na dublagem ele tem uma voz grossa e forte, bizarro demais. Rsrsrsrs
Depois disso fui nanar, estava muito cansada e afinal de contas, estava começando a me apaixonar por Buenos Aires.
Lição do dia: Mira, que bueno! Nada é tão ruim quanto parece!