Mi Buenos Aires querida. Te quiero tanto!
Esse ano sem duvida nenhuma foi o melhor da minha vida. Nem tudo é um mar de rosas, mas esse ano foi mesmo muito especial por muitas razoes que lhes quero contar aqui.
No fim de 2007 eu já tinha na minha cabeça tudo que queria para esse ano, e ainda sem saber ao certo todos os poderes que possui a minha mente eu mergulhei completamente nos meus planos e desejei com toda a minha alma realizar muitas coisas que para mim eram impossíveis, e hoje um ano depois, recordo orgulhosa de mim mesma que realizei muita delas, mas pra começar eu vou fazer uma viagem ao passado, vou bem longe nesta aventura que se chama vida, a minha vida!
Tudo começou quando no ano passado surgiu a oportunidade de passar 15 dias das minhas férias em Buenos Aires. Ficar sozinha em outro país durante duas semanas, pra mim era uma chance maravilhosa de experimentar ao menos um pouquinho da minha desejada liberdade. Nestes dias aqui nessa cidade, que hoje faz parte do meu cotidiano, foi simplesmente renovador, conheci muito de mim em tão pouco tempo, que resolvi que queria sentir com mais intensidade. Coloquei na minha cabeça que dentro de uns dias eu estava indo embora, porém voltaria em breve para ficar. E assim foi.
No dia 31 de dezembro de 2007, eu estava em casa com o então namorado Marcus, Stela e o Maycon. Eu não estava feliz, me sentia tão presa ali naquele lugar. Nesta altura eu já tinha ao menos alguma noção desse sentimento de liberdade que sempre, sempre e sempre busquei enlouquecidamente. Eu não queria estar ali. Quando deu meia noite, as nossas reações não foram de festa. Acho que além de mim, ninguém queria mesmo estar ali. Já que o clima não era de felicidades, eu propus uma prece ao ano que estava chegando. Disse ali algumas palavras emocionadas e cheias de esperanças e distribui sete papeizinhos coloridos para que cada um pudesse escrever os seus desejos.
As cores eram: vermelho, branco, amarelo, verde, laranja, rosa e lilás que representavam respectivamente: amor, paz, dinheiro, esperança, felicidade, surpresas boas e o lilás eram os pedidos mais secretos sobre qualquer coisa. E assim foi. Cada um imediatamente pegou uma caneta e distraídos escrevemos todos os nossos desejos. E não é segredo para ninguém, que o que eu mais desejei foi: Voltar para Buenos Aires o mais rápido possível. E foi o que eu pedi com todo o meu coração em todos os papeizinhos. Pensei em queimá-los em seguida, com a esperança que a fumaça subisse com pressa ao céu, e avisasse ao Universo o que eu queria, mas preferi manter-los junto a mim, assim todas as vezes que eu os lia, enchia meu coração de esperança e vontade.
Essa noite não foi muito boa, todos nós estávamos com o coração ou com a cabeça em outras coisas, que no caso não era diversão. Eu tinha uma idéia fixa, que pra mim era tão importante, que todas as vezes que eu me pegava sonhando, notava os meus olhos se umedecendo imediatamente.
Eu estava muito ansiosa, e nem sabia como é que o universo poderia me dar aquilo que eu tanto desejava. Simplesmente passei os primeiros dias do ano pesquisando e mergulhada num só objetivo. Eu mal podia esperar o meu pai voltar de viagem para lhe contar sobre essas idéias, e falar dos meus planos, ou seja, pra mim estava tudo mais que resolvido e eu estava segura e não duvidei nem por um instante, porém, ninguém além de mim mesma sabia dos meus planos.
No dia 20 de janeiro meu pai chegou de viagem e nessa altura do campeonato eu já tinha tudo que eu precisava para me mudar, eu só dependia do mais importante: O apoio dele! Ele achou a idéia ótima, porém teria que ser mais pra frente, já que o ano foi de eleição e ele certamente necessitaria de mim em Sampa ajudando ele em mil coisas. Eu aceitei sem discordar, pois poderia demorar mais alguns meses, mas eu já podia ter a certeza que teria o mais importante de tudo para conseguir o meu objetivo, que neste caso, era o apoio do meu pai.
Exatamente no dia seguinte desta conversa ocorreram coisas desagradáveis que me levaram a ter outra conversa seria com meu pai, e dessa vez a minha proposta teve um “sim” como resposta. Na hora eu chorei muito. Aquela sensação foi surreal. Apesar de ser da maneira que foi, eu tinha conseguido a primeira parte da realização de um sonho antigo. Não, meu sonho nunca foi morar na Argentina, mas esse país abriu as portas de um mundo novo pra mim, e me fez experimentar aquela tal que sempre digo e repito: A Liberdade, e isso pra mim não tem preço que pague.
Do dia 22 de janeiro á 01 de março, minha vida se resumiu em correria com os tramites da mudança e aperto no coração, muito aperto. Realizar um sonho, muitas vezes implica em sacrificar outras coisas, e isso dói muito, muito mesmo.
Cheguei em Buenos Aires no dia 01 de março de 2008. Apesar da dor de se despedir da minha gente, a sensação de descoberta e de um mundo novo havia tomado conta de mim. Fazia muito calor na cidade, me lembro até a roupa que eu vestia: Calça e blusa preta, sandálias douradas e uma bolsa super fofa do Snoop. O taxista me deixou na porta da minha nova morada: Hostel Córdoba!
Eu e o Ro. Como sempre, "fazendo arte".
Aqui começa a historia:
Toquei a campainha. Quem me atendeu foi o Martín, que viria ser o homem da minha vida, mas isso deixo para comentar depois. Ele desceu e me ajudou com as malas. Me mostrou o quarto onde eu ia ficar, e o restante do hostel. Neste momento eu estava me deparando com a minha primeira decepção: Eu tinha detestado de cara esse hostel, que para que me entendam vou descrever: Trata-se de um prédio do século XIX, bem conservado e muito bonito, mas não curti o clima do lugar.
Logo que entrei haviam vários brasileiros estirados no sofá distraídos com os seus notebooks e nem olharam pro lado quando passei cumprimentando. O quarto era escuro e não tinha janelas. Imediatamente fui à recepção, e arranhando o meu portunhol escroto, eu perguntei ao Martín onde eu poderia encontrar um locutório para ligar pra casa. Para a minha surpresa ele me respondeu tudo em um bom português.
- Você é brasileiro?
- Não, mas morei em Maceió 3 anos
Ah ta! Isso explica o português com sotaque nordestino do argentino com cara de malvado. Isso eu só pensei, mas não falei para o Martin.
Procurei um locutório, liguei pra casa pra avisar que cheguei bem, e já contei que o lugar onde estava era dos infernos. Meu pai me disse o obvio: Deixe suas coisas guardadas e saia para procurar outro lugar.
Ansiosa, medrosa, triste, saudosa e um monte de coisas mais, eu nem tive forças para procurar nada, somente num hotel que havia em frente e que cobravam 90 dólares a diária. Mó bica do caralho, preferia mesmo era ficar no hostel com cara de mal assombrado, e melhor ainda, só me cobravam 30 pesos a diária. Já que estava ali, me sentei na cafeteria deles e pedi um café, e então começou a sessão: “Garçons desesperados por uma saidinha básica com uma brasileira solitária na cidade”.
Este seria o começo dos milhares de telefones que ganhava todas as vezes que sentava para tomar um café sozinha(Não é que sou a senhora irresistível, é que eles devem gostar muito das brasucas, e quando percebem que estão sozinhas, eles atacam mesmo).
Depois de muita indecisão, procurei o Martin para pagar a semana. Sim, eu já tinha decidido ficar ali uma semana e procurar um lugar melhor para me mudar. A primeira semana eu quase nem ficava dentro do hostel e nem conheci ninguém. Eu acordava e saia cedo para passear e só voltava tarde da noite, cansada e pronta para um banho e cama.
Kaue e Ro. Sempre que eu dava bronca, faziam essas carinhas pra eu ficar com dó.
Tudo começou a mudar...
Exatamente uma semana depois, ou seja, no sábado que em tese eu deveria estar indo embora do hostel (Que nem era tão horripilante assim) eu ainda estava lá e sozinha, sem nenhum amigo, exceto por um conhecido que eu não podia considerá-lo um amigo e nem nada mais. Mas a minha sorte mudou neste mesmo dia.
Após passar a tarde toda passeando pra cima e pra baixo e circulando os anúncios de aluguel de apartamentos no Clarin, eu já não sabia mais o que fazer. De noite, sentada sozinha no sofá do hostel e ainda lendo o meu Clarín eu conheci a pessoa que seria o meu companheiro dos próximos meses. O Rômulo foi uma benção e fundamental pra mim. Nos olhamos e nos cumprimentamos. Imediatamente começamos a conversar e ele me convidou para ir pra balada, junto com a galera que ele havia acabado de conhecer. Sim, ele tinha chegado há horas eu já tinha amigos!!Rsrsrsr
Nesta noite fomos pra uma balada bem escrota, chamada: Ásia de Cuba. Não gostei mesmo, fiquei lá uma hora e meia.
Olhei pro Rômulo e avisei que estava indo embora, e fomos juntos. Chegando ao hostel, encontramos o Rogelio um mexicano com quem ficamos conversando e tomando uma cerveja até clarear o dia. Depois de encontrar o Ro, meus dias nunca mais seriam os mesmos. Não nos desgrudávamos mais. Nos demos muito bem desde o começo e apesar das nossas diferenças, passávamos mais tempo rindo de tudo e de todos que nem tínhamos tempo para discutir sobre política, por exemplo, que é um tema onde não estamos de acordo.
Martín, posando pra mim em Caballito, loco!
Ninguém podia acreditar que tínhamos acabado de nos conhecer, quem nos via, pensava que nos conhecíamos há anos, ou que éramos irmãos ou algo parecido, mas ninguém nunca chegou a pensar por exemplo que éramos um casal, porque nem de longe tínhamos essa ligação, parecíamos irmãos literalmente, e só nos separávamos na hora de tomar banho, porque até na hora de dormir (quando dormíamos), estávamos juntos, porque algumas vezes ele dormia na beliche no outro canto daquele quarto enorme.
24 horas sem parar, tanto que a menina que ele estava ficando na época ficou muito enciumada porque viu que não tinha espaço no nosso mundinho tosco, onde somente nós dois nos divertíamos muito e por qualquer razão. Íamos até rachar o aluguel de apartamento, porque viver no hostel para sempre não dava.
Um mês passou, e nós quase que praticamente dominávamos o hostel que estava quase vazio, porém no inicio de abril chegou uma puta galera, que é a parte dois dessa historia de amizade. Sentados no sofá do hostel, que nessa altura eu já achava que era meu, víamos aparecer rostos diferentes, e um deles foi o do Kaue. Perguntei ao Rômulo que nessa altura já era mim o Romão (Só ganha o nome no aumentativo quem ganha meu coração, assim foi com algumas pessoas na minha vida, inclusive a Stela virou Telão).
Eu, bancando a sexy em algum momento neste ano
Vi aquele menino, com carinha de bicha mal comida. Uma bicha bem comida, ok...mas uma mal comida eu não agüento. E pra piorar esse menino com cara de chatinho e mimado estava junto com outra menina com a mesma cara que a dele. Fiquei puta!
Preconceito é uma merda, pois esses dois se tornaram pra mim tão importantes quanto o Romão foi desde o principio. O Kaue não me desceu pela garganta quando chegou todo amigão e metendo a mala. Todo bonitinho e simpático, eu já desconfiei e nem dei espaço para qualquer aproximação. Desci pro meu quarto e fui dormir, o que era um milagre para uma sexta feira ás 11 da noite.
Aquele dia o Romão ficou com eles, até no Pub (Inferninho- baladinha que tem exatamente ao lado do hostel que entravamos de graça por sermos hospedes.) eles foram. Confesso que fiquei enciumada. Como aquele menino chatinho poderia ficar amigo do Ro assim de um dia pra outro. No dia seguinte, sentada no sofá o Kaue sentou e começamos a conversar. Imediatamente reparei na tatuagem da perna dele, e perguntei o que significava aquele símbolo, e ele:
- Esse símbolo eu criei. São as iniciais da minha família.
Delineando com a ponta dos dedos, o Kaue foi explicando o significado da tatuagem, e não teve jeito, me ganhou na hora. Achei muito fofo a maneira que ele falava da família, e notei que a carinha de playboyzinho além de verdadeira era também de uma pessoa muito bacana e simples. Ele falou tanto da família que imediatamente fiquei morrendo de curiosidade de conhecê-los.
Lari, Ro, eu e Kakitos. No Mc Donald´s como a maioria das madrugadas
Com a aproximação com o Kaue eu conheci a Larissa, uma amiga dele de infância que veio junto com ele. A Larissa parecia uma menina mimada e chatinha, mas me surpreendeu, quando descobri uma menina muito legal, atenciosa e carinhosa. Me tornei a mãe dela, como ela mesma me chamava.
Resumindo, a única chatinha e preconceituosa nessa porra era eu, porque descobri que as pessoas que eu julgava tal qual, nem de longe eram assim, porém eu que estava deixando a desejar. E mais uma vez aprendi com os meus erros. E sem falar que o Kaue também não foi com aminha cara, e me disse que quando me viu se perguntou: “Quem é essa funkeira dos infernos”. Agora, o porque da funkeira eu não sei e acho que nem ele sabe, já que nunca quebrei tudo ao som do batidão aqui em Buenos Aires...Rsrsrs
A partir de então, passamos de dupla para quarteto, ou melhor, O Quarteto. Naquela época estávamos todos de ferias. Ah! Esqueci de falar, o Ro, Kaue e a Larissa vieram para estudar medicina, o que quer dizer que terei amigos médicos, inclusive cirurgião plástico, o que significa que assim como eu já havia planejado, serei sim uma senhora muito da gostosa, porque já esta combinado que me atenderão de graça. Corpo desorganizado e entregue á Deus, somente por enquanto, porque no futuro eles vão dar um jeito!! Ahh vão!! Uhullll
Martín. Como sempre dando Rock á minha vidaO quarto do Kaká e da Lari virou o ponto de encontro da zona. Éramos odiados pelo resto do hostel que não podiam dormir com as nossas risadas. Ta legal, eu confesso que botava mesmo fogo no puteiro e me portei muito mal, fazia uma zona absurda e dava as gargalhadas mais altas que alguém poderia dar. A Lari era a mais calminha de nós, porém quando juntávamos: Eu, Ro e o Kakitos(Sim, o Kaue agora virou Kakitos pra mim) era uma loucura do cacete.
O Sebastian dono do hostel já tinha até desistido de reclamar com a gente, e pra ele nós três viramos: “Los três chiflados”, ou em bom português: Os três patetas! Quem acordava primeiro ia ao quarto do outro fazer o arrastão e acabar com a tranqüilidade alheia. Lógico que eles sempre vinham me acordar, porque nunca na historia dessa amizade, houve um dia em que eu acordei antes que algum deles.
Depois de não ter mais saída, eu tinha que levantar e me arrumar para saírmos os quatro juntinhos para almoçar, passávamos a tarde trancados no quarto, rindo, dançando Britney e rindo mais um pouco, depois saiamos para tomar café com medialunas no Jetro. Esse lugar se tornou pra gente, tipo o “Central Perk” para os “Friends” do seriado. Ali tomávamos café da manha, almoçávamos, café da tarde, jantávamos e até mesmo os garçons de todos os horários já sabiam as nossas preferências.
Kakitos, eu e o Ro. Los tres chiflados!
Tudo o que é bom dura pouco, pois as aulas deles começaram e zona teve que ser controlada, mas não mais de uma semana...Rsrsrs
Estudar eu? Ainda era mês de maio e a minha faculdade só começaria em agosto. Ferias eternas e eu estava amando essa historia.
Neste meio tempo muitas coisas aconteceram além da amizade e dos laços com os amigos. Conheci muita gente, mas muita mesmo. Fiz mil planos, inclusive alguns equivocados e que ainda bem que não deram certo. Uma das coisas mais importantes do ano ainda estava por vir.
Lembram do Martín, que foi quem me recebeu no Hostel logo que cheguei? Então, ele neste tempinho tornou-se um amigo.
Não éramos muito próximos, na realidade eu só o observava de longe e foram poucas as vezes que conversamos, mas suficientes para eu adquirir uma confiança e uma admiração por ele.
O Martin, apesar da cara de bravo é uma pessoa muito dócil, e é a pessoa mais prestativa que eu já conheci. Discreto, e carinhoso o Martin foi super fofo um dia que exagerei na Vodka e passei mal. Bebassa e gritando o nome de uma colega de madrugada, ele veio todo prestativo perguntando se eu queria alguma coisa. Sim, eu queria água, e ele me levou um copo cheio.
O tempo foi passando e eu observando-o cada vez mais. Tínhamos muitas coisas em comum, a paixão pela musica, ideologias, as mesmas convicções políticas e etc. Mas como nem tudo é perfeito, o Martín é torcedor do River e não cansava de me infernizar com péssimas lembranças de 2003 e 2006 quando o time dele tirou o Corinthians da disputa da Libertadores,e ainda fazia questão de me lembrar que o meu time estava na segunda divisão. Sim, esse era o desagradável do Martín, que pra mim já era o Martão. Sempre que nos víamos passamos o tempo todo nos xingando, noz zuando e quese nos batendo...Rsrsrs
Eu. Feliz pra caramba por algum motivo que nem lembro qual.
Além de tudo o Martin me chamava atenção por ser um cara muito, mas muito charmoso. Ele estava fora dos padrões de beleza que eu estava acostumada. Ele era diferente, e, sobretudo muito inteligente. O tipo de cara que eu poderia falar sobre qualquer coisa.
De fato, a inteligência é afrodisíaca e teve mesmo esse efeito comigo. Não demonstrei nada, preferi ficar quietinha na minha, e eu nem imaginava que era correspondida, mesmo porque não tínhamos tempo para nos falar coisas lindas e bacanas.
O legal mesmo era disfarçar todo o desejo mutuo por meio de insultos e brincadeiras de mal gosto. Conversando normal era só em português, mas quando tinha que me xingar ele apelava pro bom castellano e por isso, escutei que eu era uma “amarga”, “pecho frio”, “pelotuda” umas mil vezes...Rsrsrsrs...Eu nem ligava, porque no fundo eu sabia que ele pensava o contrario, e tinha mesmo razão.
A nossa aproximação maior se deu por conta de um amigo espanhol dele que se hospedava sempre no hostel. O Patxi e eu começamos uma amizade, e essa amizade resultou em problemas futuros. De qualquer maneira foi bom essa minha aproximação com o Patxi, porque sinto que foi por isso que eu e o Martin nos aproximamos de verdade. E tudo aquilo que eu já sabia sobre o Martin, e tudo que eu sentia por ele, mesmo como amigo, se multiplicou em questão de uns cinco dias.
Chegamos ir ao show do Groove Armada, uma banda de musica eletrônica, coisa que eu detesto. Nem sei porque aceitei, tudo bem que o Patxi insistiu para caralho, mas acho que devo ter aceitado pra ficar mais perto do Martin. Esse dia foi o nosso primeiro contato fora do hostel. Ao invés de nos xingarmos fomos até legais um com o outro. Ele sempre muito gentil, foi ganhando o meu coração. No fim do show, eu estava com frio e ele me emprestou a blusa dele. Horas depois, deitada na minha cama, a imagem dele não saia da minha mente e me peguei cheirando a blusa para sentir o cheiro dele. Isso estava ficando com cara de paixão reprimida!..Rsrsrsrs
Eu e a Lari. No aniversário de 18 anos dela.
Dois orgulhosos, ninguém admitia ou demonstrava mais o desejo era intenso e mutuo. Até que em um momento sozinhos, o silencio tomou conta e as atitudes também. Incrível. Me enamorei.
Tirando de lado esses detalhes, que sei que ele detesta essa exposição, digo que o Martin se tornou uma pessoa fundamental na minha vida. Ele me ajudou muito, inclusive a sair do hostel. Aluguei um apartamento com a ajuda dele (pra não dizer que foi praticamente sozinho). Realizei outro sonho.
Ter um apartamento lindo, que apelidei de “A casa da Barbie”, morar sozinha, estar conhecendo uma pessoa apaixonante, com amigos confiáveis e divertidos, e ainda de férias na faculdade, só podia ser um sonho.
Pra quem ia ficar somente uma semana, acabei morando cinco meses no hostel e agradeço aos Deuses, porque ali conheci pessoas que marcaram pra sempre e vivi os momentos mais felizes e bizarros da minha vida. O lugar que tinha cara de mal assombrado, serviu para eu aprender definitivamente que as aparências enganam muito. Tudo bem que eu juro que vi um espírito(conto mais detalhes outro dia), mas nem fiquei com medo. Eu estava feliz e nem que eu me deparasse com o cão eu teria medo.
Martín e eu. "Boludeando" no hostel.
Lado B da historia...
Agora aquela Ligia fanfarrona e maluca do começo do ano já não existia mais, sim existe mais esta guardada aqui dentro de mim. Amadureci nestes meses o que levaria anos se estivesse em outra situação.
O Martin me ajudou muito nisso, me tornei mais calma, menos ansiosa e um pouco mais centrada. Neste meio tempo, e com tantas coisas acontecendo eu conheci a Etel, hoje minha sogra. A mãe do Martin é uma inspiração pra mim, e mesmo que ela nem sonhe com isso, se tornou um símbolo e um exemplo a ser seguido, como mulher e, sobretudo, como ser - humano. Uma das poucas mulheres admiráveis que já conheci. Se eu pudesse escolher, e se não tivesse a minha, gostaria que ela fosse a minha mãe, e assim como o seu filho ela ganhou todo o meu amor.
Longe do hostel, com a minha própria casa, espaço e privacidade, muita coisa mudou. Eu já não me sentia mais uma criança solta num parque de diversões. Nesta altura estava desfrutando outras coisas, principalmente a nova paixão, as novas experiências e até tristezas de solidão. Passei tantos meses rodeada de gente 24 horas por dia, que quando me mudei senti falta de tudo aquilo e até hoje sinto. Hoje minha vida é muito mais tranqüila e calma.
Eu. Muito Rock an Roll na batera que nem sei tocar.
Faculdade começou em agosto. Essa parte eu pulo, nem vale a pena comentar sobre algo que não foi. Tinha tudo para ter sido, mas eu não deixei fluir. Medo, insegurança, preguiça, não sei exatamente a razão, mas sei que não foi. Não fico triste, longe disso, pelo contrario, me dei mais uma chance e ano que vem já prometi não jogar pela janela as oportunidades. Não vou me crucificar por ter me descoberto, e junto com essa descoberta pessoal, veio automaticamente a profissional. Após muitas duvidas, já consegui esclarecer muitas coisas a mim mesma, e isso eu agradeço ao meu companheiro, que me ajudou muito nisso.
Fim de ano chegou. Muita coisa mudou, inclusive as minhas convicções. Bem como a Lucirene havia dito por meio da minha numerologia, esse seria um ano de mudanças, literalmente. Com a crise econômica mundial, eu já não tinha mais tanta tranqüilidade no fim do mês, muitas vezes me senti sozinha e triste.
Comecei fazer analise e só parei por motivos de força maior (grana), mas pretendo voltar porque notei o bem que me fez. Descobri um probleminha de saúde que mudou a minha vida também, e sei que agora terei que cuidar disso pra sempre. A casa da Barbie nem era mesmo da Barbie, tinha tudo pra ser se não fosse pelas donas que são umas bruxas. Em nove dias estarei mudando daqui, e guardo as melhores lembranças. Foi a minha primeira casa, isso é o máximo! Mesmo sem saber pra onde vou, estou contente, pois tenho tudo que preciso e sei que na melhor hora encontrarei a verdadeira Casa da Barbie sem bruxas para atrapalhar.
Só pra variar, rindo muito com Ro, e no Mc.
O maior proveito que tirei de tudo isso foi sem duvida o amadurecimento. Essa experiência mudou a minha vida. Me enxerguei pela primeira vez e me conheci de verdade. Conheci uma Ligia mais tolerante, menos preconceituosa, mais calma e paciente. Experimentei sensações até então desconhecidas. Conheci pessoas que marcaram de verdade a minha vida.
A caminhada nos desviou um pouco, mas sei que vamos voltar a ser unidos como no começo! Aprendi também que tudo que eu pensava ser uma verdade absoluta me surpreendeu, e acabei descobrindo que verdade absoluta não existe. Muitas decepções e lições. Aprendi a respeitar as limitações das pessoas e não cobrar nada de ninguém, muito menos quando são coisas que nem eu mesma possa oferecer.
Os meus primeiros cinco meses longe de casa eu não recebi nenhuma ligação de ninguém do Brasil. Nem do meu pai, mãe, irmãos e amigos. Para não ser injsuta a única pessoa que sei que ligou, mas eu não estava foi o Marcus, e só. Em principio fiquei decepcionada e com raiva, mas depois aceitei, porque se eu sou desapegada a essas pessoas, eu não poderia esperar que fossem apegados a mim. Descobri que até a minha família e as pessoas que eu considerava amigas não podem e não devem nunca ser uma necessidade, e sim uma opção. É assim que quero tê-los comigo.
Caralho, nem sei mais o que dizer e como expressar. Porra! Aprendi mesmo e na raça. Me orgulho muito da educação que meus pais me deram. Livre, é assim que me sinto, porém com milhares de deficiências que aos poucos vou aprendendo sem pressa.
Martín, "Zapata" e eu. Nossa primeira foto juntos.
Buenos Aires abriu as portas de um novo mundo. E se isso for um sonho, eu juro que não quero acordar mais.Esse foi o melhor ano da minha vida e agradeço a cada uma dessas pessoas que o tornaram especial.
Aqui encontrei muita gente do bem, encontrei um amor com quem posso fazer planos e que me ensinou muito sobre a vida, sobre eu mesma e até sobre o que eu quero da minha vida. Quebrei varias barreiras, me conheci e me vi pela primeira vez. Gostei de muitas coisas, mas outras ainda estão em processo de aperfeiçoamento.
Conheci pessoas que mesmo que eu mesma tenha deixado escapar pelos meus dedos, são pessoas que de verdade e digo sem nenhuma demagogia que adoro demais. Ro, Kakitos e Lari: Mesmo que nada mais seja como antes, vocês foram responsáveis pelas minhas alegrias e desabafos nos meus primeiros e eternos meses que passei aqui e isso eu jamais vou esquecer, porque se esse foi o melhor ano, passei com vocês os melhores meses. Cumplicidade e diversão, muita diversão! Essa é a lembrança principal.
Martín, você sabe e nem preciso mais repetir que você é o cara que eu estava esperando ha muito tempo, completo como você, somente você! Te quiero muchisimo!
Quanto ao meu castellano, eu lhes conto que não é dos melhores. Tive a sorte ou a má sorte de arrumar um namorado que fala português melhor que eu, e portanto só falo português com ele. Há alguns meses ele começou a banir o português dos nosso diálogos, mas agora o legal é que ele só fala comigo em castellano e eu só falo português. No busão então o pessoal acha que a gente é retardado, por que tipo imagina:
- Che, Li! Tenés hambre?
-Puts! To morrendo de fome e você?
- Yo también. Hacemos fideos y ya fue, boluda!
- Porra, macarrão outra vez, vamos comer outra coisa….
Já deu pra entender a loucura da comunicação desse casal, né. Ah! Sem falar que não tenho mais contatos com brasileiros e com o boicote que o Martin fez ao português, eu acabei esquecendo algumas palavras, então o portunhol rola solto e sem querer:
- Caralho, minha tarjeta sumiu e não tenho como sacar plata!!!
Eu dançando no "inferninho"
Para o Martin que fala português o meu castellano é terrível, mas para o resto da população portenha o meu castellano é sensacional e eu fico toda me achando, ainda mais por nunca ter estudado o idioma, o que aprendi foi na raça mesmo e que achar o contrário andá a la conha de tu madre!!!..Rsrsrsrs
Bom, já me estendi demais. Me empolguei mesmo aqui escrevendo. Pra fechar com chave de ouro esse ano dos Deuses, eu primeiro quero agradecer ao meu “PAItrocinio”...rsrsrsrs, pela milésima vez aos amigos e conhecidos que de certa maneira marcaram a aminha vida, ao Martin e a família dele que são super amáveis comigo, a Etel então é uma mãezona.
E pela primeira vez na minha vida, agradeço a mim mesma. Sim, estou orgulhosa de mim, por muitas razoes, mas principalmente por ter fluido e agido com o coração. Sempre fui muito “pés no chão” cheia de razão, mas esse ano aprendi a não me punir pelos meus próprios erros e por isso fiquei um pouco mais feliz. A minha família, que apesar de tudo são a minha base.
Kakitos me agarrando.
Fiquei feliz quando soube que 2009 é o ano do búfalo, o meu horóscopo chinês e tenho fé que será muito promissor. Além disso será regido por Ogum. Salve Jorge Guerreiro, não vai ter pra ninguém, que os fracos saiam da frente que a cavalaria vai passar rasgando.
“Gracias a la vida que me ha dado tanto”
Um lindo beijinho!
Anacrônico
Composição: Pitty / Graco
É claro que somos as mesmas pessoas, mas pare e perceba como o seu dia-a-dia mudou
Mudaram os horários, hábitos, lugares, inclusive as pessoas ao redor
São outros rostos, outras vozes, interagindo e modificando você
E aí surgem novos valores,vindos de outras vontades
Alguns caindo por terra, pra outros poderem crescer
Caem 1, 2, 3, caem 4, a Terra girando não se pode parar
Outras situações em outras circunstâncias
Entre uma e outra as vezes, se vêem os mesmos defeitos
Todas aquelas marcas do jeito de cada um, alguns ainda caem por terra
Pra outros poderem crescer, caem 1, 2, 3, caem 4, a Terra girando não se pode parar
Outro ciclo em diferentes fases, vivendo de outra forma, com outros interesses, outras ambições mais fortes, somadas com as anteriores, mudança de prioridades, mudança de direção
Alguns ainda caem por terra, pra outros poderem crescer...
*Tudo a ver comigo essa letra e com fase que passei e ainda estou passando.
FELIZ ANO QUE VEM, COM CARINHO...
Ligia Francilino